Todos os dias ando pela praça do meu bairro como se fosse uma despedida. Essa sensação de adeus surgiu depois das minhas idas regulares a São Paulo. Comecei a encarar a possibilidade de não estar mais no mesmo endereço no ano que vem e, desde então, meus passeios pela pracinha têm um gosto um pouco mais melancólico que o habitual.
Conheço de cor todos os personagens daquela praça: os mendigos que ficam matando o tempo por lá durante o dia, os adolescentes que cabulam aula 4 vezes por semana e bebem vinho barato embaixo do coreto, as babás com criancinhas onde há brinquedos para bebês, a turma da cervejinha de garrafa que chega à noite, os músicos do chorinho do domingo. São identificáveis os tipos que habitam minha rua e a minha praça, e eu me despeço deles mais um pouquinho a cada dia, quando caminho em direção ao estacionamento.
A praça São Salvador habita os meus sonhos há anos, muito antes de eu me mudar pra lá, quando frequentava a casa de um ex-namorado que morava por ali. Eu acordava cedo e ia tomar café na padaria, e depois comprava jornal e sentava em um banquinho no sol. Ficava vendo as crianças jogando bola e reparando no brilho da água do chafariz francês. Nessa época, eu pensava que ali era um dos melhores lugares do Rio para se morar, e pedia ao ex-namorado que procurasse um apartamento para alugar por aquelas bandas. Mas o namoro acabou e quem foi morar perto da pracinha fui eu. Graças a Deus, a vida tem dessas ironias.
O fato de estar todos os dias me despedindo mais um pouquinho não é de todo mau. A melancolia existe, mas, em compensação, eu aproveito cada fresta daquela paisagem ao máximo, tento caminhar devagar mesmo quando estou com pressa, penso em sentar pra ler o jornal no banco como fazia quando ainda não morava ali, frequento os bares durante a noite e o chorinho do fim de semana.
Aproveito enquanto está ao meu alcance. E tem sido saboroso.
4 comments:
pelo jeito a sua mudança começou por dentro. boa sorte para o momento em que ela for por fora também. ;)
=*
Devemos ser felizes aonde estamos... amar também a peculiaridade de cada lugar. Soa meio auto ajuda mas essa, acredito eu, é a chave da felicidade.
pqp, vc é vizinha do Bernardo e da Carla então! Beleza que vou visitar os 3 de uma vez só quando for ao Rio.
Se vcs ainda não se conhecem, fiquem amigos agora e vão tomar cerveja de garrafa juntos!!
Esse é Bernardo (a Carla, mulher dele, não perde tempo com blogs, twitter, orkut e nada disso. Ela é muito eficiente) http://paraumoutrolugar.blogspot.com/2008/03/microbairro.html
Conheci o casal aqui em Londres, a Carla fez mestrado comigo.
Oi, Bruna! A Barbara está tentando nos colocar em contato. Vamos tomar uma Brahma Extra na Adega da Praça dia desses? O chorinho é uma boa pedida - é bem provável que a gente vá no próximo domingo, a menos que chova. Qualquer coisa, mande um email pra besteves, no gmail.
Post a Comment