Thursday, May 08, 2008

A praça é nossa

Uma das coisas legais que eu achava sobre morar em NY é que lá o povo realmente usa os espaços públicos. Explico melhor: quando é verão, o interior dos restaurantes fica vazio, porque todo mundo pede almoço pra viagem, e senta pra comer nas escadarias e chafarizes das praças. À uma da tarde é possível ver todos aqueles bancos e muretinhas tomados de gente com a quentinha na mão, comendo com talher de plástico e bebendo refrigerante em lata. Aquilo me encantava porque ficava muito claro que Nova York é realmente dos novaiorquinhos: eles usam e respeitam a sua cidade como uma extensão da casa deles.

Daí cheguei no Rio com a tal da sensação de que o que é público também é meu. Não lembro mais aonde foi, mas teve um dia em que eu estava cansada e resolvi me sentar na escada, e então veio um segurança e falou que eu não podia sentar ali porque atrapalhava a passagem. Uma escadaria enorme e só eu no canto e ele dizendo que eu estava atrapalhando! Foi aí que caiu a ficha de que a cidade não era minha, como eu pensava antes.

Quando me mudei e comecei a frequentar a querida pracinha da minha rua, a tal sensação de que o espaço público é uma continuação do privado voltou a me dominar. Isso porque existe uma série de eventos naquele coreto que me deixaram à vontade o suficiente para que eu chame o local de "meu bairro".

Na minha praça, crianças fazem festinhas de aniversário embaixo do coreto. O garçom do boteco da outra calçada arruma mesinhas e serve no meio da praça. Tem bloco de carnaval (pra quem gosta) uma vez por mês. Todo domingo, a partir das onze horas, rola um chorinho de craques, com partituras e tudo.

E não é só nas minhas redondezas que a praça é do povo. Em Laranjeiras, na General Glicério, é famoso o chorinho de sábado, logo depois da feira que tem tapioca e um mega pastel incrível. O povo fica lá ouvindo o chorinho, bebendo uma latinha, dando um relax da vida louca daquela cidade.

Outra praça que eu sou fã fica em uma daquelas ruas atrás da Jardim Botânico, naquele tipo de endereço que a gente nunca aprende o nome, mas sabe chegar lá de olhos fechados. Todo ano tem festa junina, e gente de todas as idades comparece fantasiado, e come salsichão e churrasquinho, e ouve música de festa junina, e não aquele funk podre que dominou as festividades de junho/julho da zona norte da cidade.

Quando etsou no Rio e não me acabei na noite anterior, meus domingos acontecem da seguinte maneira: acordo umas 11h30, desço e tomo um café na casa de sucos Copa de 70 (nome sensacional, vamos lá), sento no coretinho e fico ouvindo e vendo a vida passar. Quando acaba, vou logo ali no Oi Futuro ficar dando pinta até chegar a fome e a vontade de comer de novo. Faço tudo a pé, porque já dirijo muito nesse mundo de meu deus. E faço reverências ao sol da minha cidade do coração.

1 comment:

Bernardo Esteves said...

E viva a pracinha! Na sexta passamos horas lá, tomando cerveja de garrafa exatamente debaixo do coreto. Avise quando você for passar um finde no Rio, pra gente combinar mais uma.

Mas seu diagnóstico, infelizmente, é bem apropriado. Nos países sérios, o que é público é de todo mundo; no Brasil, é de ninguém. Que o digam os bacanas que vivem jogando lixo na rua pela janela do carro pra não sujar seu patrimônio...