Quando eu era garçonete em NY, costumava olhar com inveja branca as mesas de amigas na casa dos 30 que se reuniam na sexta à noite para beber vinho, comer bem e bater papo. Nos meus míseros twenty-something, me perguntava se algum dia teria dinheiro e amigas que me acompanhassem nesse tipo de programa.
Sete anos se passaram, e de repente eu me vejo bebendo saquê em um restaurante japonês do Leblon, em pleno carnaval carioca, acompanhada de duas amigas que, como eu, não se enaltecem com samba, suor e cerveja (se bem que uma delas até desfilou esse ano, e a outra encarou a Sapucaí em outros tempos). Mesmo sem a mínima fome, eu me dedicava com afinco ao sushi de ovas que sorria à minha frente, enquanto ouvia teorias bem construídas que faziam um paralelo entre o mercado de trabalho e relacionamentos amorosos. E uma delas explicava:
- O casamento é um contrato, todo mundo concorda com isso. Todos estão sendo avaliados, como em uma entrevista de emprego. O homem avalia se a mulher é apta a cuidar de seus filhos, e a mulher observa se o homem será capaz de lhe prover uma vida com o mínimo de conforto. É como se fosse um plano de carreira.
Daí eu lembrei que o meu primeiro namorado sério, por quem eu fui indescritivelmente apaixonada, tinha parado de estudar na 5a. série, enquanto que eu estava entrando na faculdade. Saca aí o abismo. Eu falava pra ele fazer cursos e se aperfeiçoar na sua área, não porque queria que ele ganhasse mais (até porque, naquele tempo, ele ganhava muuuito mais que eu, uma pobre escraviária de salário mínimo no ramo das comunicações), mas porque achava que assim ele seria mais feliz.
Não tenho mais a menor ilusão de que hoje em dia eu não teria a mínima paciência para um ser humano desse tipo.
Outra coisa que eu andei observando é que os ricos estão fadados a ficar com ricos, os da classe média e os pobres ídem, como um sistema de castas invisível e facilmente aceitado por todos - menos pelos tais alpinistas sociais, gente que eu nunca conheci pessoalmente, mas que eu sei que existe. Aliás, seguindo essa lógica, se eu conhecesse muitos alpinistas sociais, será que eu correria risco de me tornar uma?
Houve um tempo em que eu queria um maridinho assim também, que ganhasse muito mais e pagasse os empregados, enquanto que eu poderia ganhar pouco (mas, ainda assim, ter a minha carreira, sabe como é?) e dividisse o meu tempo entre o trabalho, os filhos e a decoração da casa (contanto que o meu marido bem provido pagasse os móveis que eu escolhesse). Mas aí eu fui vendo que todo mundo que eu conhecia ganhava a mesma coisa que eu - se não, menos - e aí vi que não adianta, só tem uma pessoa nesse mundo que pode me dar as coisas que eu quero ter: eu mesma.
Mas tudo bem, porque há muito tempo eu desisti de ter alguém pra cuidar de mim - inclusive descobri que não sou muito boa nisso, em deixar que me cuidem, porque fico bem mais orgulhosa de mim mesma quando eu faço tudo sozinha. Só peço ajuda pra trocar pneu de carro e usar a furadeira. De resto, pode deixar que eu me viro.
3 comments:
Não acredito muito em casatas. Nós (classe média) somos todos alpinistas sociais, só que uns levam isso mais a sério.
A propósito, pode deixar que eu troco o pneu do seu carro... :)
Errata: E não é "casatas" e sim "castas".
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