Tuesday, February 19, 2008

4 Estilos para escrever em um blog

1 - Marginal
Referência: Qualquer livro do Bukowski
Ex:
Sigo pelas ruas iluminadas de Copacabana, tropeçando em mendigos e nos buracos do calçamento inacabado, quando enxergo uma pequena porta escondida na Galeria Alaska. Escondo o cantil de metal recheado de vodca dentro do bolso da calça e me dirijo ao local. Entro. Trata-se de uma mistura de bar e puteiro decadente, remanescente da década de 50, onde cabeças brancas fazem sentar em seus colos meninas muito novas. No balcão, uma puta, velha demais para a sua profissão, procura um modo de acender o cigarro caído no canto da boca. Pego meu maço e o zippo, acendo o cigarro da puta e depois o meu próprio. Ela rosna um "obrigada", e percebo que falta um dente em sua boca escura. Nos beijamos.


2 - Sem ponto final (só permitido quando o texto acabar)
Referência: Um Copo de Cólera - Raduan Nassar
Ex:
Barco, vento no rosto, mar verde, música brega aos berros, sonhando em chegar logo, tomara que chege logo, ele me disse, eu respondi que sim, e ficamos parados olhando a água passando, a espuma, os outros tripulantes, imaginando que depois daquela linha tem uma curva, e depois daquela curva tem outra linha, e depois de tantas linhas pode ser que tenha a China, e como é que tanta gente viajava de navio antigamente, meses e meses vendo mar, espuma e sentindo o vendo no rosto, curtindo o silêncio das ondas, enquanto que nós temos que aturar o pior de todos os tempos em termos musicais, mas não tinha razão pra reclamar porque era sábado e eu estava a caminho da praia mais bonita do mundo, ou uma delas, e por isso mesmo eu engoli a música ruim e, sem dizer nada, sentei na proa do barco e mirei o horizonte.


3 - Prosa poética
Referência: qualquer jornalzinho alternativo de estudantes de Comunicação
Ex:
Divago. As horas pingam no ponteiro do relógio, zombateiras, rindo do meu tédio. Escorrego pelos minutos esperando que o fim do dia chegue, quando todas as respostas também chegarão e eu serei salva. Se ao menos todos nós soubéssemos o segredo do tempo, poderíamos moldá-lo à nossa própria vontade. Seria o poder supremo, o poder de todos os poderes, o de moldar o tempo. Mas as horas pingam, os minutos escorrem, e o fim do dia está longe. Espero. Antecipo. Divago.


4 - Onomatopéicos
Referência: On The Road, Jack Kerouac
Ex:
Fechei a porta. Blam. Acendi um cigarro. Zipp. Procurei um disco de jazz e coloquei um pra tocar. Bopblemtchuruboom. Trim. Tocava o telefone. Atendi. Não era pra mim. Sniff. Então beijei o fone. Smack.

2 comments:

Anonymous said...

HAHAHAHAHAHA!!!!

(quando eu e Hiro estavamos em Jericoacoara, ensaiamos vaaaarios contos underground bukowskianos praianos - o que pode parecer um contra senso, mas por isso mesmo fica engracado. Infelizmente, nao escrevemos nenhum)

Mas os eu post ta genial. Da proxima vez pode fazer um clariceano tbm, que fica sempre bom.

Massashi L. Hosono said...

Tirou onda hein?