Tuesday, June 26, 2007

Eu sei que você está lendo isso

Abre a foto proibida e fica uns dois segundos olhando pra ela, e então conclui: acabou. Fecha a foto, desliga o computador, mas a imagem ainda existe lá no fundo, embora a sua tentativa seja ignorá-la. Ela não vai embora. Ela não vai embora tão fácil assim - é como deitar sob o sol de olhos fechados, abrir e enxergar uma cadeira de praia, e depois fechar os olhos de novo: tá lá a cadeira, na penumbra dos olhos fechados, demorando a desfazer o contorno. Já percebeu que isso acontece? E se deitar agora e tentar dormir, vai estar no centro do escuro a mesma foto, o sorriso torto e todas as olheiras do mundo, os dentes manchados de incontáveis cafés e cigarros e quem sabe mais o quê, o cabelo que teima em continuar despenteado. Era assim até o ano passado - vai saber como é esse ano. Mas não importa, porque o que vale é a imagem do computador, aquela que restou, a que não foi deletada nem guardada no fundo de uma gaveta qualquer, a que não se juntou a tantos outros arquivos mortos acumulados com os anos. Daqui a pouco eu faço trinta, faz aí as contas de quantas fotos inesquecíveis eu já esqueci que tenho. As fotos se renovam e as manias também, os programas imperdíveis são outros, alguns amigos permanecem os mesmos. No final, é tudo esquecimento - mas este texto vai continuar aqui, não importa o que aconteça.

Vai, confessa. Você sabe do que estou falando.

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