Monday, June 04, 2007

Nina Simone

Nina Simone une as pessoas. Ela é uma espécie de termômetro para saber se vale a pena ou não que alguma conversa seja estabelecida. O mesmo acontece com Dostoiévski, mas em graus diferentes, é claro. É que tanto Nina quanto Dostoiévski pertencem a um grupo de artistas que pouca gente saca. Não no sentido de erudistismo, ou cultura, mas sim no de sentir a alma tocada. Como eu havia dito no texto sobre Lost in Translation.

Lá vem eu com essa história de novo. Mas não posso evitar. Ouvir Nina Simone em uma conversa faz com que uma estrelinha brilhe automaticamente dentro da minha cabeça. E então, a situação é vista de outro modo. Meu interlocutor ganha mais respeito. Eu penso: se ouve Nina Simone, é boa gente, e vamos nos dar bem. E, geralmente, eu comento que vi o show da diva no extinto Claro Hall, um ano antes dela morrer.

Na morte de Nina eu fiz um texto. Foi a única das minhas cantoras de jazz preferidas que eu consegui ver ao vivo, com o queixo encostado no palco, os olhos grudadinhos nos seus movimentos. Não tenho certeza, mas devia haver um fiapo de baba escorrendo no canto da minha boca. Ou não, porque essa imagem nem combina com um show da Nina Simone.

Durante recente conversa noturna, aos berros (devido ao som ensurdecedor da pista de dança), Nina foi citada. E eu lembrei do show, e do texto do dia da morte dela, e de todas as vezes que eu e Mayra ouvíamos jazz bebendo whisky roubado do bar da casa dela. Mayra criou uma festa bissexta de jazz, mas eu continuo sem fazer nenhuma produção cultural. Acredito que Nina seja para se ouvir sozinha. Ou a dois - de preferência, com possibilidades sexuais em jogo.

2 comments:

Flavio Cond said...

Sax & sex...

Zander Catta Preta said...

Eu tinha uma namorada que não gosta de Nina Simone.

Nunca entendi quem não gosta de uma boa trepada, de caminhar descalço (na areia ou na grama) ou de jazz de qualidade.

E ela dizia que entendia de música.

Quanto tempo perdido com gente que nunca somou.