Tuesday, July 19, 2005

Caio Fernando? Adooooro!

O povo da noite adora esticar os “Os” da palavra “adoro”. E sempre estica os da segunda sílaba, como que para dar ênfase de que gosta mesmo daquilo. Quando leio a palavra “adoro” escrita dessa forma, imagino logo uma pessoa jogando a cabeça pra trás, com um copo de ProSecco na mão, vestindo calças Diesel. Eu sei, é uma imagem lugar-comum e ridícula, mas eu não tenho culpa que o mundo seja um esteriótipo só.

Mas, na boa, eu me recuso a escrever um texto sobre “Adoooooro”. Eu prefiro escrever sobre Caio Fernando Abreu. É que outro dia me ligaram da Argumento para avisar que a minha encomenda de Morangos Mofados, feita há quase um ano, finalmente havia chegado. Saí correndo para a livraria mais cara do Rio e comprei meu livrinho. Fininho. Pronto pra ser devorado. Mas que eu leio com cuidado, aos poucos, golinho por golinho.

Nos poucos contos que já li, descobri que a noite eletrônica carioca deveria conhecer Caio Fernando Abreu. Deveria ser obrigação, tipo assim: quando você chegasse na Fosfobox, ganhava um dos contos de Morangos Mofados xerocado. E aí sentava naquele sofá perto do bar e tentava decifrar as letras mal impressas no escuro, e só depois de ler tudo, até o final, você tinha o direito de jacar da maneira que desejasse.

Ai, que delícia o Caio Fernando deveria ser, uma biba atormentada, subjetiva ao extremo, do tipo que não fica um segundo sequer sem pensar sobre vida, cocaína, ser humano, sexo, homossexualidade, Baixo Leblon e tudo mais o que poderia ser dito em 82. Ai, que delícia que ele deveria ser, eu fico lendo e pensando nisso, e também penso em por quê não conheço ninguém assim. Das duas, uma: ou eu simplesmente não consigo fazer surgir o lado interessante das pessoas – o que me torna, logicamente, uma pessoa desinteressante também -, ou eu ando freqüentando os bares errados. Ou, ainda, ambas opções estão corretas.

E, imagina só, se todo mundo ganhasse um conto de Morangos Mofados na porta da Fosfobox, e toda aquela modernidade dos tempos da minha avó descobrisse que a boa literatura dá, literalmente, tesão, talvez as festas eletrônicas não fossem tão zero a zero quanto são. Ou todo mundo ia ficar com um cigarro na mão, o copo de ProSecco e a xerox na outra, jogando a cabeça pra trás em suas calças Diesel e gritando: “Caio Fernando Abreu? Adoooooro!”

2 comments:

maybe said...

Amiga Bruna, acho que eu você somos as únicas que podemos jogar o cabelo para trás e dizer: Caio Fernando Abreu? Adoooooooooro. Porque? Por que a gente adora mesmo! E com as coisas que adoramos em comum (comida, sexo, música, literatura....) não fazemos pose, sempre nos lambuzamos nelas! E eu adoro isso na gente. Modéstia a parte, a gente é foda! Hahahahahahahahahahahahha!

maybe said...
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