Wednesday, February 08, 2012

River of January

A gente sabe que o Rio está passando por uma fase ótima, com o turismo bombando, aluguéis e preços de imóvel na casa-do-caralho, Copa, Olimpíadas e Juventude Cristã, mas eu confesso: sou rasa e tenho sentimentos de posse em relação à minha cidade. Não gosto de ver tanta gente aqui escolhendo, na minha opinião, as piores músicas, os piores bares, os piores pontos da praia. Me irritam todos aqueles gringos que olhando pra todas as mulheres da praia - inclusive esta grávida barriguda que aqui vos escreve - como se todas elas fossem profissionais do sexo, ou pelo menos sempre prontas pra um rápido amasso com esses visitantes louros de olhos azuis. Me irritam, simplesmente isso, e eu fico imaginando como é que os parisienses fazem pra ignorar a presença de todos aqueles milhares de turistas que sujam a cidade ao longo do ano.

Obviamente, esse é um sentimento tupiniquim. Sentimento de quem não está acostumada com a admiração alheia pelo seu país, de quem cresceu vendo que aqui só quem vinha visitar era a classe Z estrangeira (e mesmo assim, quase que exclusivamente interessada em turismo sexual). E o mais louco é que, ao mesmo tempo que a turistada me incomoda, eu ficava estufada de orgulho quando alguém elogiava o Brasil nos meus tempos de residente e Nova York. Adorava chegar em qualquer loja de música e ver meia dúzia de prateleiras destinadas apenas à Bossa Nova, enquanto todo o resto da música latina se espremia misturada num único setor. Ou quando alguém me olhava em reprovação quando eu dizia que era carioca e queria morar um tempo nos Estados Unidos. "Mas o Rio é lindo!", me respondiam os americanos. Mas só os claramente letrados, os universitários e pessoas de classes mais altas. Os mais pobres não conseguiam entender como eu era ao mesmo tempo tão branca e tão latina.

De qualquer forma, apesar da minha insistência em me comportar como filha de um país pobre e desacostumado com cortesias estrangeiras, a verdade é que ainda tem muito gringo vindo pra cá pra comer puta. Copacabana é o lugar do Rio onde mais é possível sentir essa tensão que une sexo e negócios: é praticamente impossível para uma mulher relativamente jovem ir sozinha a um daqueles restaurantes da Avenida Atlântica - pelo menos durante a semana. Ou seja: não sou só eu que tenho que mudar, mas eles também tem que vir pra cá com alguma coisa a mais na cabeça que satisfazer a cabeça debaixo. OK, entender que a mulherada fica pelada no carnaval mas que elas passam o resto do ano vestidas é difícil até pra mim (nunca engoli essa pseudo libertinagem que só dura uma semana; na verdade nós somos mesmo um bando de conservadores e moralistas), mas talvez seja o momento da gente parar um minuto e dar umas aulas de cultura brasileira pra esses nossos novos amiguinhos. E aí, quem sabe, a gente não aprende alguma coisa sobre o nosso país também.

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