Outro dia comprei calcinhas novas. Não daquelas confortáveis, que se vende nas Lojas Americanas. Mas aquelas do tipo que se paga uma grana por elas, e que incomodam, mas são incrivelmente lindas. E percebi que a calcinha resume a essência de ser mulher: a gente prefere se sentir ligeiramente desconfortável, porém linda, do que se sentir gorda ou mal vestida em calças aconchegantes. Nem que seja apenas em público.
E hoje, coloquei as calcinhas novas e abri um vinho. Assim, com as calcinhas e com a taça na mão, e o meu dente quebrado metade falso que cisma em ficar meio preto toda vez que bebo vinho. Acaba com qualquer glamour. E só porque bebi três taças e estou sozinha em casa numa sexta-feira, o que seria inadmissível há seis meses, ouvindo o shuffle do iTunes e selecionando qual música merece 3 ou 4 estrelinhas, e raramente colocando as cinco máximas estrelas, e ouvindo Nina Simone na semi-escuridão, esperando que a maçaneta gire e pela porta entre o meu namorado, para quem eu comprei calcinhas novas e bebi três taças de vinho.
Eu sou uma observadora do comportamento humano da zona sul carioca, e por isso digo com toda certeza que calcinhas lindas e desconfortáveis e extremamente overpriced servem para entreter namorados; e que roupas de grife servem para valorizar curvas não esqueléticas e deixar com certa inveja inimigas escrotas, e que tudo isso se faz sorrindo e fingindo que foi por acaso. Mulheres são gênios do mal quando não estão apaixonadas. Quando estão apaixonadas, a menos que sejam a Nina Simone, elas ficam idiotas e viram pequenos fantoches, da mesma maneira que os homens ficam quando estão apaixonados (com a vantagem de que eles não têm que comprar novas e caras e desconfortáveis calcinhas para impressionar seus pares).
3 comments:
Se forem espertos acabarão comprando cuecas bonitas... Mas têm que ser confortáveis, senão acaba qualquer possibilidade de romance ;)
interessante...
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