Wednesday, February 03, 2010

Encaixotando Bruna

Meus 32 anos podem ser resumidos em sete caixas de papelão tamanho médio. Passei o dia juntando, arrumando e fechando com fita adesiva todo o meu tesouro, que basicamente se resume a livros, CDs e pequenos souvenirs de pessoas e lugares. Encontrei a carta que a minha avó escreveu quando me formei em jornalismo e tive vontade de chorar. E outra mega carta que escrevi aos 15 anos para a minha melhor amiga, uma colagem de slogans recortados da revista Capricho, que na época eu assinava. Anos depois, essa amiga me devolveu a carta para que eu relesse e guardasse as nossas histórias ingênuas de adolescentes. Guardei. Não tenho coragem de jogar fora tantos papéis inúteis que só servem pra contar a minha história.

Mas muita coisa foi pro lixo. Pilhas de VHS. Minha matéria de faculdade sobre as festas After Ours, que "começavam às 4h da manhã e iam até depois do sol raiar"- dizia o texto do off. Essa ficou. Também ficaram os filmes Super 8 do meu primeiro aniversário, e do casamento dos meus pais. E as cartas de amigos e parentes, e alguns presentinhos de ex namorados.

Cheguei a considerar jogar fora essas lembranças de amores passados. Um snowglobe com um ursinho segurando um coração onde se lê "Eu te amo" em alemão. Aquilo não faz mais o mínimo sentido: o menino que me deu isso de presente já casou, e eu também estou casando. Nossos ursinhos segurando corações são para outras pessoas agora. Mas... não tive coragem. Eu também sou esse ursinho esquecido. Então o snowglobe voltou para a caixa de lembranças de onde não sai há muitos anos. Pobrezinho, faz tempo que não vê a luz do sol.

E todas aquelas credenciais de imprensa. Por que todo jornalista gosta de guardar as credenciais de imprensa dos eventos que cobre? Parece uma espécie de prêmio, uma medalha. A minha mais importante é a do tapete vermelho da última turnê do Michael Jackson, quando eu morava em Nova York, em 2001. Mas também tem a do Rio Parede, que eu e Ana Paula conseguimos. Não estávamos trabalhando, é óbvio. Mas subimos nos trio elétricos ao lados de nossos amigos DJs e vimos o povo dançar pela Avenida Rio Branco abaixo. E também dançamos muito. Eu sempre soube me divertir como ninguém.

Agora tudo isso está guardado em sete caixas médias, esperando para se acomodarem no apartamento novo. Não sei onde vou arrumar espaço pra tudo isso. Mas vou arrumar. O meu tesouro precisa continuar comigo. Mesmo que esteja enterrado e semi esquecido.

2 comments:

Barbara said...

Nossa, esses meus tesouros estao ate hoje na casa dos meus pais, nunca tive coragem de levar pra lugar nenhum. Essa eh a diferenca de mudar de pais (sem conteiner e demais chiquezas, logico): voce comeca a vida com duas malas de 32 quilos, e quando ve ja acumulou uma penca de coisas de novo. Apavorante.

(sorte que as casas aqui sao pequenas, nao dah para guardar muita coisa, hehehe)

Dolores said...

Passei por isso em dezembro passado.
A gente passa a vida a limpo. Livrei-me de excessos, guardei o que era afetivamente importante e abri espaço para o novo.
É estranho, meio dolorido, meio aliviante.
Foi bom.
Um beijo.