Tuesday, November 24, 2009

Viver sem tempos mortos

Finalmente fui ver a peça da Fernanda Montenegro. E foi tudo aquilo que eu esperava, e mais um pouco. Noi cenário, apenas uma cadeira e um canhã de luz em cima da atriz. E o texto saindo da boca de Fernanda, naquela voz rouca que ela tem. A história de Simone de Beauvoir, a mulher mais livre que já existiu no mundo. Até hoje em dia, Simone de Beauvoir seria uma mulher muito mais livre do que todas nós. Ela seria considerada uma puta, ainda hoje. O que me faz pensar que as putas sempre foram, e sempre serão, mais livres do que a maioria. Eu achava que puta era um xingamento. Agora já acho que é um elogio.

Só de uma coisa Simone não era livre: seu amor por Sartre. Ela era escravizada por esse amor, não conseguia se livrar das amarras dele. Abandonou uma grande paixão para voltar a Sartre. O mesmo que disse a ela que não a via mais com desejo. Eles continuaram juntos, mesmo sem sexo. Faziam sexo com coadjuvantes, com gente sem importância na história dos dois. Mesmo que eu viva mil anos, não vou saber nunca que tipo de amor é esse.

Quando você se dá conta, a peça acaba. Mas peraí, só se passaram 20 minutos? Não, se passou uma hora. Não sentimos. E ficamos com a sensação de que aquele texto deveria ser gravado, porque perdemos muita coisa do que é dito. Cada linha é essencial. Cada frase tem que ser carregada pra sempre. Eu não gosto de teatro. Mas gosto da Simone, e da Fernando e do Felipe.

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