Wednesday, May 16, 2007

Little earthquakes

Quando eu tinha uns 16 anos, ouvia Tori Amos o dia inteiro. Eu andava com umas meninas que jogavam RPG e liam Ane Rice, e usavam cabelos compridos e vermelhos, e freqüentavam a Dr. Smith aos sábados, vestidas de preto dos pés à cabeça. Em pouco tempo me tornei uma delas: lia Augusto dos Anjos (mas só os poemas famosos) e ouvia que ouvia a Tori, com um dicionário inglês-português nas mãos que era pra não perder nada das entrelinhas das letras.

E um dia as meninas ouviam "Little Earthquakes" e cantavam juntas quando comentaram: a Bruna não sabe o que são esses pequenos terremotos. E eu fiquei com raiva. Achei que estavam me discriminando porque eu era a do grupo que menos tinha experiência sexual (pra não dizer que não tinha nenhuma experiência sexual), e então protestei, mas sem grandes resultados. E fiquei me perguntando o que elas queriam dizer com aquilo de não conhecer os littles earthquakes da vida.

Mas hoje eu sei muito bem. Aprendi, eu acho. E vi que não tem necessariamente algo a ver com sexo - embora, às vezes, tudo isso esteja ligado. E de vez em quando eu canto mentalmente "hmm, these little earthquakes, here we go again". E o que me impressiona não são os pequenos terremotos em si, mas o "here we go again", porque agora eu sei que é assim mesmo, que uma hora a gente está lá em cima, e outra hora a gente está mais embaixo, e quem disser que não é assim está mentindo pra todo mundo - inclusive pra si.

E esses altos e baixos me levam a outra associação louca, que é a Roda da Fortuna, a carta do tarô que mostra mudanças e situações opostas. Na verdade, quando eu estou embaixo eu sempre penso: here we go again, vai passar -e depois, não é que passa? E aí eu subo de novo, feliz porque to subindo, embora as subidas sejam sempre mais demoradas que as decidas. Pelo menos, parecem assim.

Por outro lado, tudo é uma questão de ângulo. De posicionamento de câmera. Na minha profissão, você tem várias maneiras de gravar uma cena: mostrando a lata de lixo ao fundo, mostrando a rua, mostrando um jardim. O negócio é encontrar o ângulo que mais vai agradar a você. Como em todas as outras coisas.

2 comments:

Patrícia Rocha said...

Bom,
só passei aqui pra dizer que é bom saber de vc (a Marsiglia me disse que vc está viajando pra caramba e tal) e que eu concordo.

Se um dia quiser e puder sair pra gente falar dessas coisas rasinhas mas essenciais, sabe onde e como achar.

Beijoca, fica bem

Anonymous said...

Duas coisas:
1. Tori Amos foi a minha trilha do início da vida adulta. Era Neil Gaiman nos gibis e livros e Tori na vitrola. Que já era CD, não mais vitrola mesmo. Adoro a cantora, as músicas, tudo. Me traz uma nostalgia boa, moderna, sabe? Me faz lembrar do tempo em que eu poderia ter feito diferença, mas sem rancor ou ranço de frustração. É bom voltar aos velhos amigos.

2. Os terremotos pequenos acontecem, com menos frequencia, nos brutos também. Só que eu chamo de epifania. É mais pernóstico e prepotente. Tem mais a ver comigo.

beijos