Monday, May 28, 2007

Encontros e desencontros

Outro dia comprei o DVD do filme Lost in Translation, conhecido aqui como Encontros e Desencontros. Não gosto muito dos nomes brasileiros para filmes gringos, acho sempre que se perde um pouco do significado nessa nova nomeclatura. Não foi diferente com Lost in Translation, mas só outro dia eu realmente entendi porquê o longa foi batizado dessa maneira pela Sofia Copola.

Esse filme tem vários significados pra mim. A primeira história vem logo na sua estréia, quando um ex-namorado me ligou depois de assistir ao filme. Avisou: "Acabei de ver um filme que você vai gostar." Esses ex-namorados sempre acabam me sacando muito bem. Bom, pelo menos a maioria deles. Segundo ele, o filme lembrava a minha época nos Estados Unidos, quando eu ainda não tinha emprego e ficava longos dias vagando por Manhattan à procura do que fazer.

Parece absurdo não ter o que fazer em Manhattan. E é. Mas naqueles primeiros dias, eu vivia uma solidão que nunca tinha conhecido antes. Meu ex-namorado (o mesmo que me ligou depois da sessão, é claro) saía para trabalhar e eu ficava no apartamento, buscando um programa no guia turístico. Passava dias inteiros sem conversar com ninguém, mesmo dominando muito bem o inglês. Tinha vergonha de falar com sotaque, ou errar a gramática... Eram dias em que eu só ouvia a minha voz à noite, quando o namorado chegava em casa e a gente jantava juntos. Nas primeiras semanas, eu visitava muitos lugares e não sentia falta de conversa. Mas depois a coisa foi ficando complicada, e eu ansiava por ter o que fazer.

Mais um capítulo da síndrome da mulher de milionário.

Só que o filme vai além disso, dessa solidão no meio de situações fantásticas. Descobri revendo o filme, depois de ter comprado o DVD, que a falta de entendimento, o tal do lost in translation de que se fala, não atinge só as línguas diferentes da (linda) Scarlet Johanson e os japoneses. Existe também entre a menina e o seu marido, que não consegue entender o que ela está passando, tornando sua solidão ainda mais insuportável.

Até que aparece o coroa, que sabe exatemente o que ela diz. E então, a menina tem conversas e divide sentimentos como ela nunca conseguiu antes com seu marido. Por sua vez, o coroa também não tem com quem conversar até encontrar a menina. Os dois são salvos por uma comunicação só deles, que ninguém mais consegue entender. Aquela última cena em que a menina fala baixinho alguma coisa no ouvido do coroa, e que quem assiste não sabe o que é, é maravilhosa. Traduz todo o filme (com o perdão do trocadilho). A gente, aqui do lado de fora, pode até tentar imaginar o que é, mas a cena não foi feita pra isso, pra se buscar explicações. Foi o desfecho de uma linda história de amor.

Não dá pra sair ileso desse filme. Da última vez que assisti, chorei que nem maluca, eu mesma numa das maiores solidões da minha vida. Outro dia, emprestei o DVD para uma colega de trabalho assistir. No dia seguinte estava ansiosa para saber o que ela tinha achado. Ela me disse que achou o filme muito parado, muito lento... Que não tinha gostado muito. Eu respondi que deveria ter emprestado outros filmes com mais ação, e ficou por isso mesmo.

Essa colega de trabalho também não fala a minha língua. Estamos todos nos afogando numa sopa de letrinhas.

1 comment:

bastaestarvivo said...

eu chorei qdo vi e fiquei com os olhos molhados agora de novo.(e adorei o 'broken flowers' que o bill m. fez depois também). ou foi antes? anyway. aquela menina não tinha q ser atriz mesmo, tinha q ser diretora. vai mandar bem assim lá longe.