Não sou boa em ouvir conversas alheias. Na verdade, há muitos anos atrás prestei total atenção ao bate papo de um grupo sentado ao meu lado em uma festa. E levei um fora de fazer gosto. Desde então, acostumei a me esconder atrás das páginas mais próximas, minding my own business. Um grande erro pra quem gosta de escrever.
Pessoas na rua têm vida, têm histórias e têm um livro preferido. Na minha arrogância sem medidas, acho logo que o livro preferido das pessoas nas ruas é do Paulo Coelho. Na maioria das vezes, realmente é. Mas outras vezes, não. Sempre tem unzinho pra ser do contra. E eu gosto exatamente desse.
Outro dia peguei uma fila no caixa de uma loja. Estava sem livro na bolsa, mas automaticamente peguei meu telefone para olhar emails, Facebook, Twitter e todo o resto. Foi quando me lembrei de uma dica do escritor que estou adorando no momento (Grant McCreacken, em Chief Culture Officer, que outro dia eu conto sobre o que é). Esse cara sugere que todo mundo tem que sentar em um café com um bloquinho e uma caneta, para ouvir - discretamente - as conversas dos outros. E fazer anotações. E saber do que elas gostam, do que procuram, do que reclamam... Ele diz que a gente tem que fazer isso pelo menos uma vez por semana. Estamos na segunda-feira, e eu ainda não fiz a minha investigação em cafés. Mas vou fazer, e postar um pouquinho da conversa alheia aqui.
Eu gosto de cultura. Não só da cultura erudita, mas também da cultura diária, daquela acessível a todos. Dos hits de funk, dos pagodes. Odeio muito sertanejo universitário, mas confesso que gostaria de ir um dia a uma dessas micaretas de cowboys, onde os sertanejos jovens estão se apresentando. Quem é essa galera que sai de chapéu de boiadeiro na cabeça? Pra mim, é gente de outro mundo. E eu adoro conhecer uns marcianos.
O engraçado é que durante anos frequentei boates em que todo mundo tinha tatuagens e piercings e cabelos roxos, e por isso não acho nem um pouco estranha a galera emo. Mas mostre uma foto de um emo e outra de um cantor sertanejo teen ao primeiro que passar na rua, e vamos ver quem é chamado de marciano.
As pessoas têm julgamentos, e eu quero saber sobre o que são.
De hoje a sexta eu prometo postar um diálogo de desconhecidos. Pra ver se querem dizer alguma coisa. Ou se significam apenas uma conversa, e mais nada.
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