Nunca li Nietzsche. Bem que tentei com Assim Falou Zaratrusta, mas desisti no meio: achei denso, hermético, pesado... Enfim, chato. Acho que na faculdade já tinha tentado ler o Anticristo, mas, da mesma maneira, fui derrotada pela escrita do filósofo, e deixei ele pra lá. Paciência: gostava das idéias, mas não engolia a linguagem. Então acabei me distanciando dele e de Lou Salomé, e de outros da mesma época.
Mas aí calhou que um dia eu ia pra São Paulo e não tinha o que ler no avião. E eu adoro comprar livro no aeroporto, e abrir o volume na primeiríssima página assim que me sento na minha poltrona. Eu adoro esse ritual, e por isso fiquei feliz de não ter o que ler na ponte aérea, porque era um pretexto pra eu voltar aos meus hábitos de ponte aérea turista.
E logo de cara vi Quando Nietzsche Chorou na estante da livraria. Que eu já tinha ouvido falar muito, que tanta gente já leu e eu, atrasadíssima, tratei de colocar em dia esse romance obrigatório. É claro que eu devorei o livro avidamente, e fiquei obcecada com a história. Pra onde ia carregava Nietzsche chorando embaixo do braço, e se dava uma brecha eu abria e lia um pouquinho.
E foi assim que eu aprendi sobre a Teoria do Eterno Retorno. Que é uma teoria cruel e prática, ao mesmo tempo. Porque Nietszche achava que o tempo é um contínuo: estamos no meio de uma linha reta, infinita; se olharmos pra trás, o passado se estende infinitamente atrás de nós, e o futuro, ao contrário, segue em frente até o horizonte. Então, pra ele, o tempo se repete, e nós vivemos uma repetição eterna do que estamos vivendo agora.
Complicado de aceitar. Mas se você encara a teoria do Eterno Retorno como uma lei, qualquer decisão a ser tomada na sua vida se torna clara. Você se pergunta: vou querer passar pelo que estou passando por toda a eternidade? Se não, então mude de vida, mude de casa, de emprego, de amor. Faça alguma coisa que valha a pena de ser vivida repetidas vezes, para sempre.
Nietzsche morreu considerado louco, depois que chorou ao ver um homem batendo em um cavalo. As almas geniais como a dele são sempre mais atormentadas. Deve ser realmente uma merda pra quem tem uma alma como essa, tão sensível e tão inteligente e tão suscetível à cruel clareza do mundo. Os geniais morrem sofrendo pra que os medianos, como eu e você, tenhamos um pouco mais de noção da verdadeira natureza da humanidade.
2 comments:
Oi Bruna,
Muito engraçado como cheguei aqui.
Estava pesquisando um remedio que eu tomo ja faz uns tres anos. Topiramato. Aí é uma longa história. Achei vc falando sobre o Rivotril. Achei seu cantinho aqui e vejo que é uma moça inteligente. Grande filósofa. Gostei de ler aqui. Sou uma mulher viuva de pouco. Sofrida mas guerreira.
Um abç
Lucia
Oi, Lucia. Que bom que você gostou do texto :)
To tentando voltar a escrever, ando longe daqui... Mas vou voltar!
E vc tb, volte sempre :)
um abraço
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