Hoje eu fui fazer a minha vistoria anual e, de repente, um dos atendentes do Detran saiu chorando de sua cabine. Digo chorando mesmo, copiosamente, ao mesmo tempo em que era abraçado e consolado pelos colegas de container. Ver uma pessoa chorando já me deixa morta de curiosidade de saber o que acontece. Mas ver um homem aos prantos multiplica a minha xeretice, e portanto eu olhava quase que descaradamente.
Depois, em um dos meus ataques bipolares, pensei: saco, esse cara podia parar de chorar e me dar logo meu documento.
Estou sempre assim, oscilando entre ser uma boa pessoa ou adotar o estilo bitch. Acaba que a boazinha sempre ganha, e é realmente um saco, porque esse lado do cérebro e da alma dá um trabalho danado. De cuidar do mundo e se preocupar em fazer o bem.
O episódio do choro me lembrou a única vez em que vi o meu pai chorar. Foi um dia em que a gente tinha brigado horrores, eu no auge da aborrecência, 15 aninhos, a rebeldia saindo pelos poros. Eu fui uma teenager da pior espécie. Mas, enfim, brigamos e nos odiamos bastante a caminho de um veterinário, onde meu cãozinho receberia uma dose de vacina.
Sentados na sala de espera, meu pai resolve bater papo com a recepcionista. Pergunta de um amigo das antigas que era dono da clínica veterinária, quer saber se ele ainda continua por aquela área.
A recepcionista: "O senhor não soube? O dr. Pedro está com um tumor no cérebro. Ele operou, mas a cirurgia não deu certo. Os médicos já desenganaram."
Foi assim. Tudo na lata.
Meu pai não disse nada. Colocou a mão na testa e começou a soluçar.
Eu olhava para o horror daquilo tudo e não sabia o que fazer. Meu pai chorando - eu não tinha visto isso nem na morte da minha mãe. E eu fiquei ali, sem chegar perto dele, dar um abraço, sei lá. Fiquei imóvel e perplexa, esperando que os soluços terminassem.
Esse blog está foda. Leitura tarja preta.
4 comments:
Ver os pais chorando é foda.
Mas de certa maneira, eu fico feliz de eles se sentirem à vontade para chorar na minha frente e eu poder pelo menos dar um abraço.
foda nada... tá lindo como nos últimos 4 anos que acompanho!
As lágrimas masculinas às vezes veem mais doces, sem a histeria feminina, que nós eternamente conhecemos.
Nas poucas vezes que vi minha mãe chorando, sabia que algo ia muito mal. Porque isso só aconteceu umas três vezes na vida. E eu nunca soube como me portar nessas horas. Meu lado "bitch" sempre quis que aquela cena se desmanchasse e o tempo voltasse para eu não ter lembranças daquilo. Eu também sofro de esquizofrenia de estilos!
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