Ter babá muitas vezes me lembra a fábula do velho, o menino e o burro. Não importa o que você faça, vai ter sempre alguém te olhando como se você não quisesse cuidar do seu filho. Como se você preferisse passear sozinha, ir à academia ou olhar o Facebook, do que brincar com o moleque. Ter uma babá trabalhando pra você te eleva automaticamente ao status de perua. Mesmo que a sua unha não esteja feita, ou que as suas raízes brancas já estejam contemplando o mundo.
Aliás, o substantivo "babá" tem o poder de classificar qualquer atividade como altamente desnecessária. Por exemplo, na frase: "Fui pintar o cabelo enquanto meu bebê ficou com a babá", o sujeito, ou a sujeita, é oculta. Oculta porque não quer se mostrar e ser chamada de "insensível, como assim ela teve a coragem de deixar o filho em casa enquanto passava DUAS HORAS no salão?" Mesmo que suas raízes brancas já estejam socializando com as pessoas na fila do supermercado.
Toda vez que ouço comentários pejorativos sobre babá, feitos por alguém que não tem babá, me encolho um pouquinho. Não encaro nem defendo a vida de patroa, porque tantas vezes eu mesma já esculachei as mães do Fashion Mall. Aquelas que vão na frente e são seguidas pelas suas funcionárias e pelos carrinhos de bebê. Como é fácil e cômoda a posição de quem não tem babá! Tantas questões que essas pessoas não têm que lidar. Do tipo: levo a babá pro pediatra? Entro com ela no consultório? Levo a babá na casa do meu pai? Levo a babá no almoço com as amigas?
Com exceção do pediatra, a minha resposta é "não" para todas as perguntas acima. Não, porque... sei lá, quero conversar em paz com as minhas amigas e com o meu pai. Pelo menos, por enquanto. Ainda acho estranha essa situação tão íntima entre eu e a babá. Mas ela, com mais de dez anos de experiência em cuidar de crianças (e de patroas), não se sente nem um pouco incomodada com a nossa proximidade. Vai ver foi por isso que ela me perguntou na lata: "Por que a senhora resolveu casar e ter filhos?"
Respondi, meio sem jeito, que a minha vida foi levando a isso, sem um planejamento prévio. E, a partir daquele dia, ficou no ar a impressão, cada vez mais forte, de que a avaliada era eu. E que pode ser que ela me demita.