Friday, November 27, 2009

Vantagem feminina

Hoje o cara do Detran me liberou da vistoria mesmo tendo uma lanterna queimada no carro. Eu pensei: "Tenho que aproveitar isso enquanto não chego aos 50". Porque, convenhamos, essa boa vontade do funcionalismo público só acontece quando o atendente é homem e o atendido é uma mulher relativamente jovem.

Essa é a vantagem de ser mulher. Basta um sorriso largo para que o cara do outro lado do balcão se desmanche em cavalheirismos. Parece que, quando vê uma mulher pela frente, o homem fica imediatamente mais bobo, mesmo que essa mulher não dê necessariamente um mole pra ele. Eu não dei mole pro cara do Detran. Mas ele liberou o meu carro.

Descobri a vantagem feminina muito depois das minhas amigas, quando já estava na faculdade. Foi observando o comportamento dos professores com as alunas, e depois com os alunos, que ficou claro com quem os mestres tinham mais paciência e benevolência. Mas volto a dizer que naquele jogo não havia nada de sexual - pelo menos, não explicitamente e racionalmente. Era mais como uma magia, um feitiço que a aluna, sem perceber, jogava no professor barbado e com muitos anos de praia. E essa foi a minha segunda descoberta: nesse jogo, só importa a idade da mulher, e não a do homem - velho ou novo, ele nunca resiste a um sorriso.

Claro que essa regra só se aplica a mulheres bonitas. E claro que, quanto mais bonita, menos "nãos" uma mulher recebe na vida. O que me faz lembrar de uma grande amiga minha, que também é muito bonita. Só que ela, justamente porque era bonita demais, não mostrava o seu sorriso a torto e a direito. Dizem que as mulheres muito bonitas também são muito metidas a besta. A julgar pela minha amiga, o que dizem é verdade. Ela é queridíssima, mas também metidíssima, se é que isso é possível. E ela sabe disso, e acha até engraçado.

O sorriso largo é a arma que as mulheres medianas usam, aquelas que não são nem estrelas de cinema, nem monstros do Lago Ness. É a arma que eu uso, pelo menos. O bom é que sorriso largo e simpatia não desaparecem depois dos 50. E do jeito que a coisa vai indo, quando tiver 50 anos vou ser ninja na arte de conseguir as coisas com um sorriso. É aquela velha história: tá no inferno, então abraça o capeta.

Wednesday, November 25, 2009

Os inesquecíveis de 2009

Parada no meio da estrada pra comer neve, na Espanha.
La Alhambra.
O Paquistanês do café de Barcelona.
O show do Radiohead.
Declarações de amor e castelos construídos na areia.
A primeira vez que cheirei (e achei uma merda, diga-se).
O karaokê indie e a minha redenção aos palcos da vida.
Uma conquista financeira e uma sentimental.
A volta à análise.
Meu primeiro roteiro elogiado.
Apendicite.
Gente chata x gente legal.
Gente louca.
Saudade dos amigos.
E outras coisas. Tantas outras. Pequenininhas. Todas valeram. Até as ruins. Eu agradeço todo mundo. Até quem me odeia. Até os loucos e os injustiços. Esses fizeram as coisas boas serem muito melhores! Até os loucos e os injustos merecem meus agradecimentos.

Arroz e ansiedade

Ontem eu fiz arroz. Fiz tudo direito, o arroz ficou soltinho, mas esqueci de colocar sal. Parece besteira, mas isso me resume um pouco: faço tudo bem certo, mas sempre rola uma cagada final. Tudo bem, antes pouco do que muito sal na comida. Compensei o erro com uma pitada extra com a porção já no prato. E se eu não contasse ninguém saberia que esqueci do sal. Mas eu não me satisfaço em fazer a pequena cagada do dia: eu tenho que divulgá-la e de me crucificar porque cometi o erro mais tosco do mundo fantástico das cozinheiras.

Ontem também foi o dia em que me avaliaram no trabalho. Adivinha: minha atuação supera em tudo. Mas é claro que supera, como poderia ser diferente?, eu penso. Do jeito que sou completamente viciada em trabalho, do jeito que priorizo a carreira na minha vida, impossível não superar as expectativas da chefia. Só que...

Só que eu sou ansiosa. Demais. E isso foi colocado na minha avaliação. Não entendi. Fiquei olhando a minha chefe dizendo que eu tinha que relaxar mais e fumar menos. Ela falou na boa, não foi uma bronca. Mas eu não entendi como se faz. Ela disse que eu tenho que continuar sendo uma profissional que supera expectativas, mas sem adquirir uma gastrite. Mas eu nunca tive problemas com gastrite, argumentei. Eu já tirei um apêndice, que não serve pra nada mesmo. E já fumei muitos cigarros, mas to a caminho da abstinência. Mas nunca tive nada com gastrite. Isso não. Tudo menos isso.

Fiquei olhando a minha avaliação ser preenchida com esse porém. O que passava na minha cabeça era: será que por causa disso não vou conseguir um aumento? Porque eu quero um aumento, eu mereço esse aumento, e eu não tenho a mínima vontade de continuar ganhando o que eu ganho. Portanto, é fato: vou ganhar o aumento.

Mesmo com toda a minha ansiedade.

Tuesday, November 24, 2009

Viver sem tempos mortos

Finalmente fui ver a peça da Fernanda Montenegro. E foi tudo aquilo que eu esperava, e mais um pouco. Noi cenário, apenas uma cadeira e um canhã de luz em cima da atriz. E o texto saindo da boca de Fernanda, naquela voz rouca que ela tem. A história de Simone de Beauvoir, a mulher mais livre que já existiu no mundo. Até hoje em dia, Simone de Beauvoir seria uma mulher muito mais livre do que todas nós. Ela seria considerada uma puta, ainda hoje. O que me faz pensar que as putas sempre foram, e sempre serão, mais livres do que a maioria. Eu achava que puta era um xingamento. Agora já acho que é um elogio.

Só de uma coisa Simone não era livre: seu amor por Sartre. Ela era escravizada por esse amor, não conseguia se livrar das amarras dele. Abandonou uma grande paixão para voltar a Sartre. O mesmo que disse a ela que não a via mais com desejo. Eles continuaram juntos, mesmo sem sexo. Faziam sexo com coadjuvantes, com gente sem importância na história dos dois. Mesmo que eu viva mil anos, não vou saber nunca que tipo de amor é esse.

Quando você se dá conta, a peça acaba. Mas peraí, só se passaram 20 minutos? Não, se passou uma hora. Não sentimos. E ficamos com a sensação de que aquele texto deveria ser gravado, porque perdemos muita coisa do que é dito. Cada linha é essencial. Cada frase tem que ser carregada pra sempre. Eu não gosto de teatro. Mas gosto da Simone, e da Fernando e do Felipe.

Wednesday, November 18, 2009

5 coisas que um homem não deve dizer a uma mulher

No jantar do primeiro encontro
1 - Puta que pariu, 200 reais!?!?
2 - Eu pago agora e você paga depois.
3 - Dá licença que eu vou dar uma seringada.
4 - Tenho que ir ao banheiro, o camarão já tá fazendo efeito.
5 - Tá explicada a conta. Só o seu prato foi R$60.

Depois do sexo
1 - Você fez tudo certinho.
2 - Foi ótimo, mas ainda não bateu a vez que eu comi aquela garota boa pra caralho lá em Porto Seguro.
3 - Minha ex-namorada chupava muito bem.
4 - Desculpa, mas eu gosto de ficar sozinho depois que gozo. Depois a gente se fala.
5 - Sabe aquela hora que eu coloquei a camisinha? Então: era mentira! Te engane-ei, te engane-ei!

No email
1 - "Gata, derrepente vc topa faser uma viajem comigo?"
2 - "FoI DiMaiXXX oNtEm Di NoIti!"
3 - "voce sabe eu queria ver voce de novo mas nao sei quando posso me liga quando vc puder ai a gente combina tenta amanha..."
4 - "Passe esse email para 20 amigos e um desejo vai se realizar. Se não passar, você vai perder as duas pernas em duas horas."
5 - "Era assim que eu queria ontem" (título do email: As Melhores Chupadas da Rede)

Apresentando pros amigos
1 - Essa aqui é a Vânia, quer dizer, a Luana.
2 - Essa aqui é a Luana. Ela que eu falei que faz aquele barulho quando ta gozando.
3 - Essa aqui é a Luana. É por causa dela que eu não faço mais porra nenhuma com a galera.
4 - Essa aqui é a Luana. To preso em casa mas to trepando bem mais que vocês!
5 - Namorada? Não, essa aqui é a Luana...

Conhecendo sua família
1 - A Luana tem essa cara de santinha, mas vou te falar que ela não é santa não!
2 - To com uma idéia incrível, ta a fim de entrar com uma grana não?
3 - Eu trouxe um livrinho da Herba Life pro pessoal dar uma olhada aí de bobeira.
4 - Passa o sal que a comida ta meio sem gosto.
5 - Bom saber que um dia tudo isso vai ser meu.

Wednesday, November 11, 2009

Simone de Beauvoir

Conheci Simone de Beauvoir depois de achar "A Convidada" esquecido em uma prateleira empoeirada lá de casa. A minha casa tinha disso: dezenas de clássicos mal organizados onde um dia os meus pais se lambuzaram. E eu passei a adolescência desvendando essas prateleiras e, vez ou outra, descobrindo autores que me acompanhariam ao longo da vida.

Assim foi com Simone. Devorei "A Convidada" e tratei de procurar outro livro dela na minha biblioteca esquecida particular. Encontrei "Todos os homens são mortais", romance que ganhou o Nobel de Literatura. Pronto, estava decretada a paixão por essa escritora.

Mas eu não sabia que ela era feminista. Eu tinha uns 20 anos quando dei uma lida em "O Segundo Sexo", e descobri do que se tratava, na verdade, Mme Beauvoir. E nunca mais esqueci de uma frase: "A mulher só conquista quando se faz de presa". Quanta verdade! Uma verdade que eu nunca consegui seguir. Mas que eu via que dava certo, quando praticada por meninas mais sabidas e malandras que eu.

E depois eu soube que ela, mesmo feminista, e casada em casas separadas com o Sartre, escrevia pedaços do romance do marido e deixava que ele assinasse. Até a mais feminista das mulheres se rende à vida da Amélia quando está apaixonada. É como disse a Madonna: "Toda mulher quer lavar a cueca do marido". Até Simone de Beauvoir! E eu não acho errado. Acho lindo Simone lavando as cuecas do Satre. Acho uma prova de amor.

E, pensando em tudo isso, decidi pagar os R$80 do ingresso para assistir Fernanda Montenegro encenando "Viver sem tempos mortos". Sim, são R$80 reais que me farão muuuita falta. Não, eu não tenho carteira de estudante, por motivos de vergonha na cara. Sim, meus amigos e meu namorado me acham maluca de pagar tanto, e por isso eu vou sozinha.

Mas, veja bem: estamos falando de um texto baseado nas cartas de Simone a Sartre, interpretado por Fernanda Montenegro e dirigido por Felipe Hirsch! Eu não gosto de teatro. Mas eu gosto dessa combinação. E gosto de estar sozinha nessas horas, pra absorver melhor o que está acontecendo no palco.
Eu vou. E depois eu conto como foi.

Wednesday, November 04, 2009

Vizinhos

Meus vizinhos são ótimos. Não conheço ninguém pessoalmente, mas só o fato de não ter recebido uma única reclamação depois de uma dúzia de festas bombantes já me faz simpatizante dos meus companheiros de prédio. Uma vez, conheci por acaso a menina que morava no apartamento logo abaixo do meu. Ela mora lá com o avô, o que me fez ficar muito envergonhada por todos os sábados de barulheira na minha casa. Mas, para a minha surpresa, ela disse que nunca ouviu nada demais vindo do andar de cima, e eu fiquei de convidá-la para a próxima festa. Mas a verdade é que eu nunca convidei. Tipicamente carioca.

A minha vizinha da frente gosta de ouvir Ivete Sangalo bem alto. Às vezes é bem irritante, ainda mais porque é impossível ouvir a TV quando ela tem esses acessos de animação. Mas não, eu nunca pedi pra abaixar o som. Principalmente depois que uma turma de amigos alcoolicamente alterados confundiu os apartamentos e acabou tocando no lado de lá quando já era 1h da manhã. Ela não disse um ai. Então eu também não digo.

Em cima do meu apartamento mora um menino de uns cinco anos chamado Vitor. O Vitor toca o rebu toda vez que vai tomar banho: graças à acústica privilegiada do meu prédio, posso ouvir a empregada implorando pro moleque ficar quieto e parar de jogar água nela. O Vitor me faz questionar seriamente se vale a pena ter filhos. Mas a verdade é que quando o encontrei no elevador, achei aquele garotinho tão fofo que até esqueci que ele é um capeta. É assim que as crianças enganam a gente.

Uma vez, a minha vizinha do térreo distribuiu uma carta por todos os moradores da minha coluna pedindo gentilmente que parassem de jogar camisinhas usadas no quintal dela. A carta tinha um tom sarcástico que me fez querer chamar a tal vizinha pra um chá: "Fico feliz que meus vizinhos da coluna 3 tenham a vida sexualmente ativa, e mais feliz ainda de que estejam fazendo sexo com proteção. Mas o meu quintal não é lata de lixo", dizia o recado. E acho que deu certo. Ou alguém parou de fazer sexo, ou parou de jogar as camisinhas lá embaixo.

Outro dia fui pagar a minha vaga alugada na garagem do prédio e descobri que a dona da vaga tem duas irmãs absolutamente iguais a ela. São três senhorinhas baixinhas e gordinhas, que moram no prédio há muito tempo. Bem simpáticas, me convidaram pra um café e um bolo, que eu tive que recusar. Vizinho bom é vizinho distante.

Lembrei de como sou sortuda com meus companheiros de porta por causa do episódio de uma amiga que acabou de comprar um apartamento. No dia do Open House do cafofo, um chatinho que mora no prédio foi exigir o fim do encontro às 23h. E era domingo, véspera de feriado.
Que saco. Deve ser muito ruim viver cercada de gente desse tipo.