Monday, July 30, 2007

Convites

Quinta foi um dia estranho. Originalmente eu havia combinado de beber um vinho e comer um queijo lá em casa, porque estava dura como um coco e não queria gastar dinheiro. Mas acontece que uma das amigas com quem eu iria me encontrar estava enrolada no jornal (quem mandou ter amiga jornalista?) e avisou que só conseguiria chegar no Flamengo lá pelas 23h. A solução foi simples, dada pela segunda amiga da noite: vamos sair para tomar um chope enquanto seu lobo não vem.

E fomos nós para o Baixo. Há uns três anos eu não pisava no Hipódromo ou no Braseiro, por isso foi uma agradável surpresa perceber como tem meninos bonitos por lá. Quanto mais happy hour for o horário, melhores são os meninos. Depois das dez o clima vai ficando mais muvucado, mais adolescente, e aí já não tem graça. Bom mesmo é encontrar aqueles engravatados bebericando suas tulipas.

Mas só pra olhar mesmo, né, gente. É que adoro um colírio.

Quando eu achava que iria ficar no chopinho e nada mais, encontro a minha chefe sentada em uma mesa e cercada de amigos. Fui intimada a sentar e, como chefe é chefe, a gente obedece. Ela me apresentou rapidamente a toda a mesa, não guardei o nome de ninguém, e recebi um chope bem geladinho pra passar o tempo.
É que ainda esperava encontrar a tal amiga que estava no jornal.

Os minutos foram passando, e depois as horas. A mesa foi crescendo, crescendo, e os planos mudaram. Minha outra amiga, a que chegou comigo no Baixo, resolveu que era hora de ir para o Plebeu. Graças a um pedido charmoso, desisti de ir embora do BG, e fiquei para o que desse e viesse. E o que apareceu foi o seguinte: vamos terminar a noite no Clube Democráticos.
Já era meia-noite.

O Democráticos estava lotado, uma mistura de malandragem carioca (em menor número), juventude dourada pós adolescente (a grande maioria) e eu. É claro que ninguém ali se parecia comigo.
Eu aceitei todos os convites pra dançar (é desfeita dizer não), avisando que com certeza eu pisaria no pé do meu acompanhante. Ninguém se importou, mesmo quando eu perdia o ritmo. Foi bem divertido, tanto que a minha abóbora demorou para avisar que estava na hora de ir embora.
Quando percebi, eram quase 4h.

Corri pra casa de táxi, com um tremendo peso na consciência de como seria meu dia de trabalho na sexta. Deixei pra trás a minha chefe e todo o seu séquito, louca pra tomar um banho e cair na caminha.

Foi só depois de entrar no meu apartamento que percebi a mensagem no celular, enviada 3 horas antes:
"Vem pra Búzios amanhã?"
Respondi na hora: "Reserva aí meu lugarzinho"

E fui dormir feliz e muito cansada.

Thursday, July 26, 2007

Entendimento

Pra que tentar entender o mundo? Muito melhor é deixar a coisa fluir, acreditando piamente que o universo conspira em seu favor. Ele passou a acreditar nessa história de universo e, por tabela, ela talmbém. Vai boiando sobre as águas, deixando a onda levar, mesmo que um dia a colisão com as pedras seja inevitável. Até lá, é só o sol esquentando o rosto, o silêncio do mundo submerso afogando os ouvidos, a misteriosa vida marinha vez ou outra roçando de leve nos seus braços. Assim é bem melhor: sem luta, sem cansaço, sem desespero.

Outro dia explicaram pra ele, que depois explicou pra ela: quando você quer atingir um objetivo, faça de conta que esse objetivo já é seu. Ao invés de bater a cabeça, vá ao cinema. Uma hora vai acontecer o que você deseja.

Mas ela não era assim, estava o tempo inteiro tentando explicar o por quê das coisas, esperando que os dias seguissem uma lógica. Gostava de colecionar casos dos outros para assim desenvolver uma teoria sobre a humanidade. Já fazem trinta anos que essa teoria está para ser construída. Outros teriam desistido; não ela. Ela acredita que a perseverança é o caminho da descoberta.

Mesmo vivendo em lados opostos, os dois conseguiam se encontrar. Melhor viver em oposto do que em paralelo, aí sim fica complicado o encontro. Na contradição, ninguém sabe ainda como, chega uma hora em que a língua é a mesma. E aí dá certo. Como no jogo do universo.

Wednesday, July 25, 2007

Domingo na praia

Domingo de sol na praia de Ipanema. Encontro com amigos no segundo coqueirão (o primeiro coqueirão datou, minha gente) para mais uma tarde de sol, água gelada e muito salgada, gringos diversos (entre eles, a delegação americana de natação), mate de garrafão feito com água suspeita, biscoito Globo, queijo coalho com orégano, canga, cadeira, Rolling Stone Brasil e jornal O Globo. Minha praia acabou às 19h30, e fazia bastante tempo que eu não chegava em casa de biquini em um horário que o sol havia há muito se posto.

O bom de uma praia domingueira no inverno é que ela não é tão cheia quanto no verão, e existe a certeza absoluta de que todos os componentes dos meses mais quentes do ano estarão presentes. Não é porque estamos em julho que não vai rolar aquele clima de calçadão carioca que eu tanto adoro. Estacionei o carro no Leblon, porque lá tem vaga, e fui andando calmamente até o 9 quase 10, assistindo a todos os acontecimentos ao meu redor. Gente de patins, de bicicleta, de skate, de cachorro em punho, de namorada de braço dado, de criança no colo, de cheiro de milho verde e churros, de água de côco.

Houve um tempo em que o fim de semana praieiro era obrigatório. Eu acordava com mensagens de texto chamando pra praia, e imediatamente me levantava, colocava o biquini, engolia alguma coisa e dirigia vinte quilômetros até o litoral da minha preferência. Ia ouvindo reggae, as únicas músicas de reggae que eu gosto, gravadas em uma fitinha K7 pela Karen, que sempre tentou me conduzir ao clã de Jah. Nessa época, eu gostava de ouvir reggae porque achava que tinha tudo a ver com o clima em questão. Ia de janela aberta, sentindo o ar quente do verão, e pouco me importava com ar condicionado e possíveis pivetes. Aqueles eram bons tempos.

Muita coisa mudou desde então. Troquei as manhãs na praia pelas noites que acabavam só no dia seguinte (na verdade, sempre tive essa tendência...) e fiquei longos meses sem sentir na pele o gosto do mar. Só quando viajava a trabalho fazia questão de dar um mergulho na cidade em que estava. Porque se piso pela primeira vez em uma cidade litorânea, me sinto na obrigação de mergulhar nas suas águas. Mas a verdade é que meus fins de semana mudaram drasticamente de uns tempos pra cá, apesar de nada disso ter sido imposto. Foi uma mudança minha.

Por isso achei tão engraçado quando ouvi de um amigo, outro dia: "Nossa, a gente é tão diferente, mas se diverte tanto". Esse amigo acha que só porque eu gosto de música eletrônica e ele se amarra em um bom boteco de Santa Teresa, nossa amizade é contra as leis da física. Ledo engano. A gente sempre se adapta ao que aparece, sempre molda um pouquinho os nossos gostos ao que é novo e, por isso mesmo, eu ignoro sua tendência de querer levar um Raul no violão para sentar no Mineiro e dar boas risadas com ele, noite adentro.

Bom, talvez isso não seja tão comum, essa versatilidade de programas que eu sei que tenho. Mas se isso é uma das coisas mais legais da vida! Acho uma pena se engessar em um determinado estado, em um grupo seguro de amigos, onde com certeza falarão a mesma língua que nós, entenderão a nossa piada e cantarão juntos a mesma música.

Faz tempo que não vejo o tal amigo hippie. Tenho quase certeza de que ele também estava na praia de Ipanema domingo passado. Não no mesmo ponto que eu, é verdade, mas em algum lugar daquela comprida faixa de areia.
Tem lugar pra todo mundo. Até pra pós-hippies e pós-clubbers.

Tuesday, July 24, 2007

Sobre gente legal

Tenho conhecido muita gente legal, ido a eventos legais, ouvido música legal. E por "legal" não quero dizer mediano, e sim absolutamente apaixonante, empolgante. Novidades que às vezes me fazem sentir que eu ainda tenho muito o que descobrir e o que aprender com os outros. Meu esporte favorito dos últimos meses é ouvir histórias alheias, e descobri que conversar com estranhos é muito mais fácil do que eu imaginava.

Sofro de amor à primeira vista a todo momento. Meu último caso de amor foi com a música Ceremony, do New Order, que eu baixei na trilha sonora de Marie Antoinette, e não consigo parar de ouvir. Coloco pra tocar todos os dias, e só no percurso trabalho - casa são duas execuções, uma quanto estou na zona sul e outra quando chego na zona oeste.

Sinto um prazer ainda maior ao me cercar dessas pessoas e eventos e músicas legais ao mesmo tempo em que risco da minha vida toda a espécie de chatices. Dá uma certa leveza a todos os movimentos se livrar dos pentelhos e péla sacos do mundo, e eu ando leve, leve demais, a ponto de dançar como se os meus pés tivessem vida própria, sem me importar com o que está ao meu redor, sem olhar pra trás ou pros lados, à procura de rostos conhecido.

Já fiz tanto disso, meu deus. Agora estou livre.

Mas falta mais. Falta dançar ainda mais, e ouvir ainda mais músicas e histórias legais, e depois copiar tudo nesse blog que, afinal, eu vivo buscando uma finalidade.
Porque agora eu escolho os temas. Não são mais os temas que me escolhem.

Thursday, July 19, 2007

Reconsiderando

O acidente da TAM me deixou muito mais angustiada que o da Gol. E não foi só comigo que ficou essa impressão, porque a amiga que vinha de SP me visitar desistiu do fim de semana carioca por conta da tragédia. Não se trata de medo de que seu avião caia (tudo bem, isso também está em jogo no momento), mas sim do clima macabro que se instalou em São Paulo.

Pela primeira vez na vida, me vi checando a lista de vítimas no Globo on line, para saber se não conhecia ninguém. Talvez a proximidade com São Paulo, ou o fato de que eu viaje muito de avião e já tenha feito Porto Alegre - SP milhões de vezes na vida, ou ainda talvez tudo isso junto, mais o medo da pista de Congonhas, e a crise dos controladores de vôo que ninguém mais agüenta comentar - talvez tudo isso tenha me deixado assim, chocada com a história, e um pouco mais deprê do que o habitual.

De qualquer forma, nessas horas a gente realmente considera ser um pouco menos hipócrita, um pouco menos egoísta, um pouco menos mesquinho. Tudo em nome do curtíssimo tempo que passamos aqui.
Pena que essa sensação de balanço interno acabe se esvaindo com o tempo.

Wednesday, July 18, 2007

Leve e esvoaçante

Fica assim não: a gente sabe que tudo isso aqui não passa de uma grande piada, que os sentimentos de agora não vão significar mais nada daqui a alguns dias, sejam eles raiva, amor, compaixão, afeto. Tudo se esvai pelo ralo, mesmo os mais sólidos acabam se desintegrando e se perdendo esgoto abaixo. Hoje em dia eu aprendi a rir de mim mesma e de todo mundo à minha volta. Não descobri nas últimas 24 horas um ser humano capaz de me tirar o sono. Já foi o tempo em que existiam outras prioridades. Agora é tudo risível, leve e esvoaçante. Todas as coisas no mundo ou caem esgoto abaixo ou saem planando pelos ares (o que é muito contraditório e, no entanto, não menos verdadeiro).

Mas tem vezes que eu perco a paciência. Parece que bem quando a gente precisa de um incentivo, de um empurrãozinho de outros humanos, aí mesmo que eles escondem as mãos atrás das costas, ou então abrem aquele espaço traiçoeiro na hora do mosh.

Mas essas são vezes que não contam, são as chamadas exceções que confirmam a regra, e, portanto, eu não me preocupo muito. Passo os meus dias como quem vai à feira: escolhendo muito bem o tomate menos pobre, a flor menos murcha.
Vai ver é esse o segredo pra você ficar bem: não buscar o perfeito, mas o menos pior da humanidade.

Tuesday, July 17, 2007

Todo dia um evento

Meu trabalho está calmo. A conseqüência disso é que todos os dias eu tenho um pequeno evento para comparecer: penetra de vernissage no MAM, jantarzinho com amigos que moram em SP, chopes intermináveis, festas de aniversário. É uma lista infindável de festividades as quais eu compareço diariamente, a ponto de quase não usufruir da minha nova casita. O engraçado é que chega o fim de semana e eu não tenho o que fazer. Todos os meus amigos já cumpriram suas obrigações sociais comigo de segunda a quinta.

Na primeira semana de festinhas, eu me joguei. Achei ótimo, dizia que essa era a vida que eu queria. Na segunda semana, o entusiasmo diminuiu um pouco, mas eu continuava uma participante ativa das combinações por email coletivos. E agora, na terceira semana, eu tenho sono, muito sono. E quero logo uma noite em casa, vendo novela das oito, para poder recuperar as minhas energias.

Amigos que moram sozinhos há mais tempo que eu avisaram que essa empolgação é normal nos primeiros dias de apartamento alugado. Disseram que com o passar dos dias a coisa toda vai esfriando e, de repente, nos pegamos novamente jantando em frente à TV. No meu caso, jantar não é exatamente a palavra que descreveria a minha útima refeição do dia. Faz um tempo que o que eu como quando chego em casa resume-se a fatias de queijo brie ou camembert, e suco de uva. Um primor da boa alimentação.

Bom, as francesas fazem isso. E elas são magras, não são?

De qualquer maneira, talvez estejam chegando ao fim as minhas obrigações sociais de dias úteis. Mas, ainda assim, na quinta-feira outra amiga de São Paulo estará no Rio, e já convocou a minha companhia para uma noitada que, com certeza, vai acabar tarde.

Mas não se enganem. Esse texto não é uma reclamação.
Os anos passam e os comportamentos continuam os mesmos.

Monday, July 16, 2007

A vida com os porteiros

Tenho pensado muito nos porteiros do meu prédio. De como eles devem me achar completamente louca, a julgar por quem entra e quem sai, a que horas entra e a que horas sai. Sei que é um absurdo me preocupar com o que os pobres dos rapazes da portaria devem concluir, mas a verdade é que essa vida de prédio é uma novidade pra mim. E, sim, me incomoda um pouquinho saber que algumas pessoas conhecem o meu cotidiano tão bem.

Alguns exemplos de situações constrangedoras perante os porteiros:

1 - Saí com uma amiga para beber uns drinks na Lagoa. Era pra ser um happy hour, mas aí um telefonema leva a outro, que leva a outro lugar, que leva a novos drinks. Enfim, cheguei em casa tarde da noite, de pilequinho (Porque desde os meus 16 anos eu não fico bebérima, só de pilequinho. É um tipo de consciência que se ganha quando se tem quase 30 e muitos cabelos brancos metodicamente cobertos com tinta vermelha). Saí do carro pensando: vou fazer a de simpática pro porteiro da noite. Encolhi a barriga, sorri e disse "boa noite" - ele respondeu "bom dia" - calculei os passos e mirei na porta do elevador. Mas, no caminho (certa de cinco metros), consegui:
- esbarrar na mesa da portaria (o que resultou em um mega roxo que durou umas três semanas),
- bater com força a porta que separa o hall de entrada do corredor do prédio,
- tropeçar no degrau que se formou entre o piso e o elevador.

2 - Em um fim de semana recebi um amigo para ver filminhos e ficar de bob na minha casa. O papo acabou tarde, e o meu amigo saiu do apartamento umas 3h da manhã. Deitei pra dormir e dez minutos depois o celular toca: é a minha roommate, meio desesperada, porque um outro amigo nosso botava os bofes pra fora na porta de uma festa. "Bota ele dentro de um táxi e leva pra tomar glicose", sugeri. Desliguei o telefone e voltei a dormir. Quinze minutos depois a roommate chega carregando o outro amigo bebum pelos braços, dizendo que ele só precisava dormir um pouco. Abrimos o sofá da sala e jogamos o pobre do menino ali. E o porteiro da noite - mais um a vez ele - acompanhou, sem se mover da cadeira, o esforço da minha amiga para levar o menino pro sofá da nossa sala.

3 - Tem o porteiro do dia que sempre, mas sempre, sacaneia o modo como eu estaciono o carro na frente do prédio.

4 - Tem o porteiro da tarde que fala uma língua estranha, a qual eu não entendo cerca de 60% do conteúdo.

5 - E, o meu preferido, o porteiro da noite. Aquele que chega meia-noite e sai às 5h. O que sempre responde "bom dia" quando eu dou boa noite. O que sabe quem entra e quem sai do meu apartamento. O que interfonou para pedir que abaixasse o som no dia do Open House.

E mesmo assim, eles são ótimos e necessários, né, gente. Tipo, sei lá, usar fio dental depois de escovar os dentes.

Thursday, July 12, 2007

Um ano faz diferença

Semana passada foi aniversário de uma amiga das antigas. Essa amiga já foi citada nesse blog, no post sobre os bastidores de um casório e em tantos outros menos importantes. Todos os anos ela faz uma pequena festa em sua casa, convida as mesmas pessoas de sempre, e geralmente nós enchemos a cara e saímos de lá com o sol raiando. Há pelo menos dez anos é assim.

Bom, costumava ser assim. No última festa aconteceu uma coisa bizarra: nossos comportamentos mudaram. Minha amiga, já casada e com o marido viajando, obviamente não participa mais dos programas adolescentes que o resto de nós insiste em desfrutar. Isso não é de se surpreender. O que me impressiona é que os outros membros do seleto grupo de amigos já não são mais os mesmos.

Dessa vez não bebemos um monte de vinho que deixa o dente preto. Ao invés disso, alguns optaram pelo whisky, outros (como eu), pela coca, e outros pela cerveja. As garrafas de vinho, compradas com muito esmero pela mãe da aniversariante, jaziam esquecidas sobre o balcão do bar. Um ou outro, de vez em nunca, levantava e se servia de um copo. Mas eu posso garantir que dessa vez sobrou muita bebida na festa.

E quanto aos papos? No ano passado, falamos de sexo e ligamos o som paraibinha nas alturas, conversando mais alto que a música e, por vezes, dançando no gramado. Em um determinado momento, enquanto discutíamos assuntos cabeludíssimos como drogas e (mais) sexo, a avó da minha amiga sinalizou que ainda estava acordada. Baixamos o volume e continuamos a desfiar besteiras noite adentro, gravando cenas inesquecíveis que nunca foram parar no Youtube. Foi realmente uma noite memorável.

Nesse ano, passamos por temas polêmicos. Começamos uma discussão sobre pagar ou não propina pro guarda de trânsito, sobre fazer ou não gatos da Net e sobre usar ou não carteirinha de estudante falsificada. Quando a discussão começava a ficar muito intensa, alguém gritava: "boquete!", porque esse é um recurso usado pelos menos amigos. Quando vai dar briga, direcionamos o assunto para sexo (de novo). Só que a situação estava tão séria que ninguém se importou muito com os gritos de "boquete!", e seguimos adiante com mais discussões profundas.

Ningém dançou, ninguém estava a fim de dançar. Mas o papo seguia em frente, rumo a temas adultos. O incrível de tudo isso é que não foi uma festa chata, muito pelo contrário. Mas não se via vestígio do fogo pós-adolescente do ano passado.

Fiquei imaginando que, em pouco tempo, chegaremos na casa da Lu com nossos filhos a tiracolo. Colocaremos os pirralhos em um dos quartos da casa, onde eles assistirão A Pequena Sereia, ou outro clássico da Disney da nossa época. Quando tivermos certeza de que eles estejam dormindo, vamos começar a gritar "boquete!"

Acho que, no final, a gente não vai mudar. Mesmo que tenhamos que passar do tema propinas para o tema sexo (novamente) em um piscar de olhos.

Tuesday, July 10, 2007

Sonhos, de novo

Ontem assisti na TNT Abre los Ojos, versão original de Vanilla Sky. Eu só tinha ouvido falar desse filme, e estava achando tudo muito igual ao americano até que me deparei com a cena final. A cena final, que deve durar uns 3 segundos, é meio sinistra - taí uma diferença pra versão americana. Se bem que faz tanto tempo que não vejo Vanilla Sky que não tenho tanta certeza se há mesmo diferença.

Ah, sim, outra coisa é que a Penelope Cruz mostra os peitos no filme espanhol. Não tinha isso no filme hollywwodiano, tinha?
Bom, nevermind.

Esse filme é cruel. Eu passo mal com a história do playboy desfigurado que depois fica refém das armadilhas da sua mente. Impossível não comparar um pouquinho com Brilho Eterno, que também tem a ver com a terra dos sonhos (nesse caso, do esquecimento de uma realidade ruim), e que também dá errado. Assim como Abre los Ojos, Brilho Eterno também tem um pseudo final feliz: há esperança no caso, mas a gente sabe, bem lá no fundo, que aquilo não vai dar certo.

Eu entendo isso. Eu também agiria assim. Perdi a conta de quantas vezes ignorei a furada em que estava me metendo, sabendo perfeitamente que a longo prazo aquilo ia desaguar no mar, e mesmo assim meti as caras. O prazer do momento é sempre mais importante que a desilusão futura.

E aí, lembrei de outro filme. Todos os filmes do mundo. Mas esse eu preciso rever com urgência, porque só vi uma vez, e é o tipo de cinema que tem que ser visto over and over: Solaris. Pelo que me lembro, o homem optava por viver em sonho. Por viver uma realidade de fantasia, que só poderia existir no mundo extraterrestre de Solaris.

Mas e daí? Ele era feliz ali. O impossível era possível. Eu faria como ele.
Se me perguntassem: "você sabe que isso não é real, não é?", eu também responderia: "Não me importo".
A realidade nem é tão importante assim. A gente mente o tempo inteiro pros outros e pra nós mesmos, chegando ao ponto de acreditar nessa mentira. Realidade é construída de acordo com o que cada um quer. Estou cada vez mais convencida de que não existe verdade absoluta em nada.
Só o que a gente inventa.

Monday, July 09, 2007

Trilha sonora do caos

Eu pego um certo trânsito para ir e voltar do trabalho. Fiz o caminho oposto da maioria dos seres humanos e me mudei para um bairro que fica uns 40 km distante do meu horário comercial. Mas não me importo: foi uma escolha minha, já sabia que seria assim e, para que todos saibam logo, estou muito bem na minha casa nova, cercada de cinemas e barzinhos e amigos que eu posso ligar a qualquer dia para que eles me façam uma visita. Sendo assim, 1h no carro na ida e 1h na volta não significam absolutamente nada.

Mas o engarrafamento, tem vezes, é bem chato. Aquela coisa de primeira-segunda-ponto morto pode estressar qualquer pessoa (principalmente uma de natureza ansiosa como eu). Para acalmar a minha jornada, passo os longos períodos automobilísticos ouvindo música boa.

Cada ponto da cidade tem a sua trilha sonora específica. Quando estou engarrafada na Lagoa, por exemplo, gosto de ouvir Air. Porque aí eu fico observando todas aquelas pessoas caminhando na ciclovia, sob o delicioso sol das 10h, e fica parecendo que eu etsou vendo televisão. Eu viajo. Combina muito a luz da manhã com Air.

Quando chego em São Conrado, gosto de ouvir o disco novo do Chemical Brothers. Geralmente o fluxo é bem melhor nesse ponto, de modo que eu dou asas ao meu pé de chumbo e sento o pau no acelerador. Freio no pardal e acelero de novo depois que passo o radar. Não é assim que todo mundo faz?

Na Barra, geralmente eu coloco um jazz. Pode ser Nina Simone, ou Ella Fitzgerald, ou Duke Ellington.

Quando estou quase chegando no trabalho, se ainda dá tempo de ouvir mais algum artista, coloco meu iPod no shuffle e deixo que ele escolha. De vez em quando meu iPod está de bem comigo e faz uma seleção de três músicas incríveis. Às vezes eu acredito que o meu iPod tem alma. E que, depois que eu morrer, ele vai pro céu comigo.

Deu super certo

Meus amigos ficaram emocionadíssimos com o livro que eu fiz pra eles. Contei ainda com a luxuosa diagramação do Zander.
No dia em que eu descobrir como se faz isso, coloco todos aqueles textos péla sacos pra download no Poça D'água. Mas alguém mais familiarizado com tecnologias do que eu terá que me ajudar.
Alguém?

Thursday, July 05, 2007

Novas velhas amizades

Meus amigos às vezes me cansam. Alguns têm o poder de falar a coisa errada na hora certa e, dessa maneira, magoar meu pobre coraçãozinho sensível. Tenho pensado muito sobre por quê os amigos fazem isso, por quê muitas vezes eles são cruéis - mas não sem esquecer que eu também já fui muito cruel com eles. Muito cruel mesmo. Será que a crueldade é uma característica do ser humano?

Mas ao mesmo tempo que os amigos mais íntimos têm me tirado do sério, ando redescobrindo outros, nem tão amigos assim, que andavam esquecidos. Cheguei à conclusão de que tem uma galera no Rio que eu mal conheço há uns dez anos. É possível você passar dez anos só falando: "oi, tudo bem?" para uma pessoa? Essa é a síndrome da noite: aquela situação em que a música está tão alta que é impossível estabelecer uma conversa.

Dia desses resolvi fazer diferente e marquei um chope com pessoas que originalmente só encontro depois de uma da manhã. Resultado: fui surpreendida. Eu, que tenho uma tendência a rotular precocemente as pessoas, percebi que gente que sai à noite também sabe conversar. Eu acreditava de verdade que fazia parte de um grupo restrito de gente que tem substância para manter uma conversa por mais de dez minutos sem mencionar uma única vez os efeitos de determinadas drogas. (Se tem uma situação que me testa a paciência é a pergunta: "o que você tomou hoje?" Rola muuuito por aí, infelizmente).

Ai, como eu adoro ser surpreendida. O chope foi ótimo, o papo foi ótimo, e eu terminei a minha terça interessada na humanidade de novo.
De vez em quando é bom dar uma reciclada nas amizades.

Wednesday, July 04, 2007

2002, 2003

Dia desses eu recuperei uns textos de blogs antigos. Coisas de 2002, 2003, quando eu ainda me considerava uma pessoa de vinte e poucos anos.

(Isso porque, desde que eu fiz 29, quando me perguntam a idade, eu digo logo que tenho 30. Achava que era a única a fazer isso, mas descobri uma amiga com a mesma atitude. E no final das contas, essa história de medo de chegar aos 30 é besteira... Até porque pouca coisa mudou pra mim desde os 25. A principal diferença é que agora eu tenho muito mais dinheiro)

Mas aí, relendo todas aquelas histórias, deu uma saudade louca dos meus vinte e poucos anos. Época em que eu poderia aterrisar de pára-quedas no Baixo a qualquer momento e, ainda assim, encontrar uma mesa cheia de amigos para eu me juntar. Muitas daquelas noites descritas nos textos eu já havia esquecido completamente, mas voltaram à memória no exato momento em que eu reli. Incrível isso: basta a gente ter um pequeno estímulo que o nosso cérebro recapitula direitinho.

Por causa do momento recuerdos, resolvi dar um presente para todos aqueles amigos que foram mencionados nos textos antigos: reuni tudo em um grande livro, que fala das nossas vidas desde 2002 até hoje.

Não sei se eles vão gostar - provavelmente, sim. Mas, pra mim, organizar esses textos já foi um super presente.
Pelo menos pra alguma coisa serve manter um blog...

Otariamente comprando CD

Fui uma das últimas pessoas que conheço a aderir à prática de baixar músicas pela internet. O motivo disso não era político, e sim porque durante muito tempo só tive conexão discada na minha casa. Mas faz uns três anos que não entro em uma loja de discos: toda vez que queria uma novidade, lá ia eu para o EMule ou o SoulSeek. E em algumas horas eu tinha os últimos lançamentos pra ouvir, muito antes de eles chegarem às lojas do Brasil.

Só que outro dia não me agüentei e acabei comprando o disco novo da Björk. Como todo mundo sabe, me mudei e ainda não tenho a estrutura 100% lá em casa, de modo que a minha ansiedade para ouvir Volta foi maior que a minha paciência (pra variar). Como meio de justificar toda essa ansiedade sem justificativa, fiquei repetindo para mim mesma que com a Bjrörk é diferente, porque eu tenho toda a coleção dela em CD, e geralmente o encarte é muito legal, e etc etc etc. Arrumei várias razões para me enganar e comprar logo o tal do disco.

Pra se ter uma idéia, eu não sabia nem onde procurar. Lembrei da Saraiva, onde, de vez em quando, compro uns livros pela internet. E lá fui eu na loja do mundo real, passei direto, sem olhar, por todos aqueles livros maravilhosos e cheguei na seção de discos. De primeira identifiquei o que eu queria, peguei e paguei no caixa exatos R$31,90. Toda a operação não durou mais que dez minutos.

Daí fui correndo pro carro me deliciar com o novo presente. E, é claro, mer divertir com o encarte. Coloquei o disco pra tocar e tirei o livrinho da capa. Mas... o livrinho era muito fino. Fino demais para um CD da Björk, com apenas duas páginas e nenhuma foto ou grafismo interno. Pensei: "Isso deve ser coisa de edição nacional". Não deu outra: no canto superior da capa, à direita, estava escrito: "Special Edition for Latin America".

Que decepção. Paguei 32 reais por essa porcaria! Poderia ter baixado o disco todo na internet, inclusive o encarte, pagando nada! Me senti a pessoa mais otária do mundo. E prometi a mim mesma nunca mais entrar em uma loja de discos.

Andei vendo por outros blogs que eu não sou a única a se sentir uma idiota fazendo as coisas da maneira "legal". Outro dia, li o texto de uma menina que contava a sua peregrinação na tentativa de baixar arquivos MP3 comprados. É tudo tão complicado, incompatível, burocrático, que você fica o processo inteiro se perguntando por quê está fazendo aquilo. O que me faz chegar à conclusão de que a gente não tem que fazer o menor esforço para tentar acompanhar o estabilishment.
Ele que corra atrás do prejuízo!